domingo, 20 de abril de 2008

Resenha de Karen sobre O Narrador

BENJAMIN. W. O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. IN: BENJAMIN,
W. Magia e técnica, arte e política. Obras escolhidas. São Paulo: Brasiliense, 3.ed., 19

“ Num dia qualquer de 1940, no lado espanhol da fronteira entre a França e a Espanha, um funcionário da alfândega, cumprindo ordens superiores, impediu a entrada de um grupo de intelectuais alemães que fugia da Gestapo, a temível corporação nazista.Um dos integrantes do grupo, homem de quarenta e oito anos de idade, que estampava no rosto sinais de profunda melancolia, mas ao mesmo tempo transmitia a impressão de um intelecto privilegiado, não resistiu à tensão psicológica e suicidou-se....O intelectual em questão era Walter Benjamin,um dos principais representantes da chamada Escola de Frankfurt”(Os Pensadores, 1983).

Além do filósofo e crítico literário Walter Benjamim, salientaram-se, entre outros, na Escola de Frankfurt, Theodor Adorno, Max Horkheimer e Jürgen Habermas. Sua “Teoria Crítica” expressava a crise teórica e política do século XX refletindo sobre seus problemas com realidade nunca antes observada.

Em seu texto O Narrador- Observações sobe a obra de Nicolau Leskov, escrito entre 1928-1935, Benjamin alerta-nos para o fato de a arte de narrar estar desaparecendo devido ao fato de a faculdade de intercambiar experiências estar em ‘baixa’. Tal experiência seria a fonte a que recorre todo o narrador. Neste caso, estaríamos condenados ao fim da memória?

A partir de dois modelos, o do camponês sedentário e o do marinheiro viajante, comerciante, Benjamin traça o perfil de duas famílias originais de narradores. Depois, foram os artífices que se encarregaram de recontá-las ( ou recantá-las) ao embalo do ritmo de seus teares e outros afazeres manuais.

Quanto a Leskov(escritor russo nascido em 1831 com afinidades tanto com Tolstói quanto com Dostoiévski), graças às viagens pela firma inglesa na qual trabalhou, viajou pela Rússia enriquecendo sua experiência do mundo. Em seus contos lendários pode-se reconhecer, por exemplo, a figura do justo, homem simples que se transforma em santo com a maior naturalidade. Aliás, será com esta figura da mística judaica de aspecto humilde - o Justo- ,cuja característica marcante é o anonimato( o mundo repousa sobre sete justos,mas não sabemos quem são, nem eles próprios) que Benjamin comparará o narrador “ um artesão que tece a matéria prima da experiência." Neste sentido , iguala-se a um sábio e à figura na qual o justo se encontra consigo mesmo.

O verdadeiro narrador sabe dar conselhos tecidos com sabedorias. Porém, o surgimento do romance, no início do período moderno, foi o primeiro indício da morte da narrativa:a burguesia,o capitalismo,a imprensa e o livro. “O romance nem procede da tradição oral nem a alimenta”. Solitário, seu leitor busca, doravante, aquecer sua vida na morte descrita no livro.

Outro gênero estranho à narrativa, além do romance ,surge neste período: a informação.Se antes o saber vinha de longe e não carecia de comprovação, a informação será verificável e imediata, sem possibilidade de interpretações.Desaparecendo o narrador, desaparece também o dom de ouvir.Citando Paul Valéry, Benjamin lembra-nos que o homem moderno não cultiva o que não pode ser abreviado.Para Leskov, ao contrário da mentalidade do breve, literatura não seria uma arte,mas um artesanato, um trabalho manual.

Ao final, no texto de Walter Benjamin, mais uma consideração sobre o narrador: “afinidades singulares alma -olho- mão de uma pessoa nascida para surpreender tais afinidades em si mesmo e para as produzir ”.Este foi o caso de Leskov, cronista(liberto de explicações verificáveis) e narrador da historia.

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